quinta-feira, 15 de julho de 2010

Cronistas da Natureza



Desde a chegada da frota de Cabral às terras brasileiras, vários textos foram escritos por europeus que aqui estiveram, relatando impressões sobre a terra e seus habitantes. Entre eles destacamos o padre Fernão Cardim e o frade André Thevet. Cardim, em Os tratados da terra e gente do Brasil, publicados na íntegra pela primeira vez em 1925, reunindo os livros I(Do clima e terra do Brasil), II(Do princípio e origem dos índios do Brasil e III(Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuíta), apresenta verbetes informativos sobre a fauna, flora e os habitantes do Brasil. Segundo ele o Brasil apresentava árvores de frutos como o acaju, árvores muito grandes e formosas, de bom cheiro, onde nasce uma castanha, alguns são amarelos e outros vermelhos. Outra árvore é a jaboticaba onde se dá uma fruta de tamanho de um limão, é uma fruta rara, acha-se somente pelo sertão adentro da capitania de São Vicente, desta fruta fazem os índios vinho. Há também muitos e grandes pinheiros, pinhais propriamente como os de Portugal, e dão pinhas como pinhões; as pinhas são redondas e não são tão compridas, os pinhões são maiores. Das árvores que servem para madeira neste Brasil há arvoredos em que se acham árvores de notável grossura, e comprimento, de que se fazem grandes canoas, barcas e gangorras para os engenhos. Há muitas madeiras, por exemplo, o pau santo, de umas águas brancas de que se faz leitos muito ricos, e formosos. O pau do Brasil, de que se faz tinta vermelha, e outras madeiras de várias cores, há paus de cheiro, como o jacarandá, sândalos brancos em grande quantidade, pau daquila em grande abundância que se fazem navios dele, cedros, pau d´angelin, e árvore de noz-moscada. Entre as ervas que são frutos e se comem destacam-se a mandioca um mantimento que serve de pão, e são umas raízes como de cenouras, ainda que mais grossas e compridas. Destas raízes espremidas e raladas se faz farinha e beijus, o maracujá que são ervas muito formosas, principalmente nas folhas; crescem pelas paredes, e árvores como a hera (plantas rasteiras); as folhas espremidas com verdete é único remédio para chagas velhas, e boubas (doença infecciosa da pele, ossos e cartilagens, causada pela bactéria espiroqueta), dá uma fruta redonda como laranjas, outras à feição do ovo, uns amarelos, outros pretos, tudo se come, e é de bom gosto, tem sabor azedo. André Thevet, em seus relatos sobre os habitantes, ele destacou a existência de uma gente estranha e selvagem, sem fé, sem lei, sem religião, sem civilidade nenhuma, que vive como os animais irracionais, do modo como a natureza a fez, comendo raízes, andando sempre nua (tanto homens quanto mulheres), e entre os animais encontrados estão os crocodilos e as lebres. Quanto a terra ele falou das árvores que eram muito férteis, davam frutos excelentes, tinha montanhas belíssimas, vastas planícies, rios cheios de peixes, ilhas férteis e terras firmes.
Esses textos, são registros muito importantes e preciosos sobre as origens de nosso país que dão aos leitores em geral a oportunidade de conhecer a natureza brasileira vista pelos primeiros jesuítas no século XVI.
Fonte: Olivieri, Antônio Carlos. e Villa, Marco Antônio. (Organizadores). Cronistas do Descobrimento. Editora Ática, 3° edição, 2001.
Marta Nascimento

terça-feira, 13 de julho de 2010

O clima, a fauna e a flora

O clima tropical, mais ameno totalmente diferente da Europa próprio para o cultivo agrícola, a exuberância da fauna e flora brasileira desde o descobrimento impressionaram os estrangeiros. As cartas escritas pelos viajantes, jesuítas e cronistas, entre eles Hans Staden e o padre José de Anchieta mostram claramente essa admiração. A fauna abundante e exótica, fornecia alimentação e era composta por tamanduás, anta, tatu, gambá, insetos, formigas, jacarés, piranha, lagartos, micos, cobras, bichos-preguiça, beija-flores e outros. A flora muito rica composta por tubérculos, legumes e frutas como uvas, abacaxi, mangaba, limões, laranjas, goiaba, cacau, tomate, mandioca, batata doce, tinham outras utilidades além de fornecer alimentação. Elas eram usadas no preparo de remédios para a cura de algumas doenças.
Com sua flora e fauna a biodiversidade brasileira possui características especiais. Muitos desses seres vivos só existem na América do Sul, uma região única e distinta de todas as outras.
Fonte: Assunção, Paulo de. A terra dos brasis: a natureza da américa portuguesa vista pelos primeiros jesuítas (1549-1596), São Paulo: Annablume, 2001; Miranda, Evaristo Eduardo de. O descobrimento da biodiversidade: a ecologia de índios, jesuítas e leigos no século XVI.
Marta Nascimento

A Expansão e a Natureza

As descobertas marítimas romperam com o enclausuramento das partes do mundo conhecido, alterando os rítmos da vida cotidiana dos indivíduos dos séculos XV e XVI. A navegação por mares incertos, exigia uma reunião de interesses econômicos, políticos e, sem dúvida, culturais. Os descobrimentos além de revelarem a verdadeira dimensão do mundo para a humanidade, desencadeia um novo reordenamento nas estruturas de pensamento: o ambiente da ação humana e o seu conhecimento passam a serem ampliados.
Esse processo ao permitir um conhecimento do mundo, trazem consigo uma nova leitura da existência humana. A Igreja, detentora do saber primordial sobre as origens da civilização ocidental, redireciona suas explicações. O novo precisa ser inserido no discurso religioso das Escrituras Sagradas, como algo que foi perdido e era achado, um reencontro das partes até então desunidas. E isso só foi possível por uma única razão: o ponto em comum entre elas, o monoteísmo cristão que reunia de maneira convergente todas as coisas criada pelo ente divino. Deus era o centro do universo.
Então, a cristandade se abriu para um amplo questionamento cultural e religioso, e buscou na natureza compreender as semelhanças e as diferenças entre o novo e o velho mundo. Os elementos da natureza foram utilizados como símbolos religiosos para estabelecer a relação com Deus, e os missionários se apresentavam como agricultores, pastores que conduziam as ovelhas.
Na Idade Média, os cristãos, acreditavam que a natureza era o caminho para esclarecer o mundo e a si mesmo. Por isso, preservavam-na acreditando que fazendo isso estariam dando continuidade a obra de Deus.
Fonte: Assunção: Paulo de. A Terra dos Brasis: a natureza da américa portuguesa vista pelos primeiros jesuítas (1549-1596), São Paulo: Annablume,2001.
Marta Nascimento